Celebração do Tempo 2017
Evocando o tema proposto pela Organização das Nações Unidas para o ano de 2017 – Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento –, o calendário inter-religioso Celebração do Tempo 2017 assinala as principais datas celebrativas dos grandes grupos religiosos implantados em Portugal, bem como algumas importantes efemérides nacionais e internacionais. O tema literário proposto para o novo ano relaciona-se com as Misericórdias. O mesmo é dizer: com o desafio do Outro. Pedro Calado, alto-comissário para as Migrações, evocando a Carta da Compaixão (2009) – resultado de uma colaboração fraterna e cuidada entre vários líderes religiosos e teólogos –, lembra que «o cuidado do Outro é um pilar ético da humanidade». Uma ideia corroborada também por José Tolentino Mendonça, diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP, quando afirma que a misericórdia é «um radical e comprometido sentido do outro». As Misericórdias – «uma das mais genuínas expressões da identidade, da cultura e da história de Portugal e da lusofonia» (frei Vítor Melícias) – são precisamente um dos frutos mais perenes do humanismo renascentista português que, à semelhança do que acontecia no resto da Europa, demonstrou grande preocupação pelo homem concreto e tudo fez para impedir o triunfo da lógica do homo homini lupus (o «homem lobo do homem»). No caso português, como precisa Joana Balsa de Pinho, estas confrarias de leigos destacaram-se pela sua «abrangência (as 14 obras de misericórdia), a autonomia face à tutela da Igreja e a assunção como o elemento organizador da assistência no território nacional, incluindo o além-mar».
Porfírio Pinto
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