Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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domingo, 5 de julho de 2015

Um dia no Minho - a ver fazer filigrana na Eleuterio


(English version, here)

aqui falámos da Eleuterio, marca portuguesa de alta joalharia especializada na arte da filigrana, Também referimos a estratégia da empresa familiar, que vai na terceira geração. Partindo de bases perfeitamente tradicionais, está a fazer a filigrana atingir patamares de modernidade, através de design declinado em leituras contemporâneas. Também já lhe dissemos aqui da colaboração da Eleuterio com uma designer como Carla Matos. Agora, há um projecto anunciado com a criadora Olga Noronha, como pode ler aqui.

Passámos um destes dias na unidade de produção da Eleuterio, em Travassos, Concelho da Póvoa do Lanhoso, Distrito de Braga. Travassos tem uma tradição secular no trabalho do ouro e as raízes estão na cultura castreja da região, onde foram encontradas peças elaboradas de ouro, e nas minas que existiam e que foram entretanto abandonadas. Há mesmo em Travassos um Museu do Ouro.

A filigrana  (do latim, filum - fio e granum - grão), é uma técnica de trabalhar metais muito típica da ourivesaria portuguesa. Embora seja aplicada nas mais diversas partes do Mundo, teve grande desenvolvimento nas áreas mediterrânicas. Em Portugal, encontraram-se artefactos de filigrana que remontam a 2500-2000 a.C.. Esta técnica foi incorporada no rico património da ourivesaria portuguesa para a representação de motivos muito ligados à história e cultura nacionais, nomeadamente, os crucifixos, os corações de Viana, os brincos de fuso ou à rainha.

A delicada utilização de fios muito finos proporciona peças que dão a ilusão de renda em ouro e prata, em peças complexas que simbolizam o mar, a natureza, a religião ou o amor. A elaboração de cada peça começa com a fundição, passando por fazer o fio de filigrana e o esqueleto da peça, enchê-lo, etc. No final de todo o processo, é criada uma pequena obra de arte, diferente de qualquer outra porque feita à mão por um artesão.

Há, hoje em dia, no mercado, peças de filigrana industrial, feitas através de micro-injecção em moldes, mas a Eleuterio defende os métodos artesanais.

No portefólio que se segue acompanhamos as várias fases na produção de peças de filigrana na unidade de Travassos da Eleuterio. Na imagem de cima e nas seguintes, o corte do fio de ouro e o encaixe dos segmentos na base da jóia, ou esqueleto.











Peça contemporânea da Eleuterio, com  diamantes


Em cima, três gerações Eleuterio, com o fundador da empresa, Eleutério Antunes, à direita. Em baixo, Rosa e Luís Antunes, os representantes da terceira geração (Luís, ao lado do pai, à esquerda da foto de cima).



Outras peças do actual catálogo da Eleuterio.








O polimento de um anel de filigrana.



Outra fase do enchimento do esqueleto, com pedaços de fio de ouro.










Livros com notas de encomenda e desenhos da casa Eleuterio. As peças viam a sua forma projectada no papel através de um sistema engenhoso - fuligem que se fazia passar por entre os finos interstícios da filigrana.






Na zona de trefilaria, prepara-se o fio de ouro, tornando-o cada vez mais fino. Em baixo, depois de adquirida a espessura requerida, o enrolar à mão do fio num rústico rolo de madeira.





Depois de enrolado, o fio vai assim ao fogo, por três vezes, para ser amaciado. Se o fio não fosse enrolado, derreteria ante o fogo do maçarico.





De volta da fornalha, o fio é de novo desenrolado, dobrado em dois e... a partir daí, começa verdadeiramente o processo de produção da filigrana - o entrançar das duas partes, por várias vezes, dando-lhe um aspecto granulado.





O enrolar do fio sobre si próprio é feito por mãos hábeis, através de dois pedaços de madeira - o entrançado obtém-se através do avanço da peça superior, apoiando-se na base, e com o fio no meio.






Sob a acção do fogo, o ouro fica negro. O rolo de filigrana tem que passar por banhos sucessivos de uma mistura ácida.




Enquanto isso... dá-se polimento a mais peças acabadas...









Depois de o entrançado estar pronto, a filigrana passa por uma máquina que achata o fio. Há peças de filigrana com fio de corte esférico, mas o habitual é elas serem feitas com este fio achatado.









Cortando e colocando os segmentos de filigrana. Algumas peças são compostas de centenas ou mesmo milhares de segmentos.


















Catálogos com fotografias das peças e elementos dessas peças colocados em cima ou ao lado.




Uma das fases mais delicadas da operação - o soldar de todas as peças, através da colocação de pingos de ouro em zonas específicas e, depois, da passagem do calor. Pode pensar-se que uma peça de filigrana é frágil mas, com a técnica adequada, ela ganha nesta fase uma consistência que lhe permite um uso diário e uma resistência elevada.







Numa das paredes da oficina, Santo Elói, patrono dos ourives.




Noutra parede das instalações, mais um Santo Elói.


A nossa jornada pelo Minho terminou ao fim da tarde na Póvoa do Varzim, na quase centenária Ourivesaria Tavares. Este estabelecimento acaba de ser renovado e alargado, mantendo agora uma zona de exposições temporárias e uma outra de museu. O espaço de exposições foi inaugurado com uma mostra de peças Eleuterio.








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