Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Meditações - horas que soam

Nuvens da Tarde

Aquelas nuvens, que voam,
Ninguém pode pôr-lhes mão...
São como as horas que soam,
E as aves, que em bando vão...
Como a folha desprendida,
E como os sonhos da vida,
Aquelas nuvens que voam...

Às vezes o sol, que as doura,
Parece à glória levá-las
Mas surge o vento e, numa hora,
Já ninguém pode avistá-las!
É um convite enganoso,
Um escárnio luminoso,
Às vezes, o sol que as doura!

Tantos castelos caídos!
Tantas visôes dissipadas!
Gigantes, heróis perdidos,
Que mal sustêm as espadas!
Faz pena ver, lá do monte,
Nas ruínas do horizonte,
Tantos castelos caídos!

E as donzelas lastimosas,
Que vão fugindo transidas!
Quem fogem elas ansiosas?
Que buscam elas perdidas?
Ó romances fugidios!
Vejo os tiranos sombrios,
E as donzelas lastimosas!

Aquelas nuvens que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos intímos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens que vemos...

Nossa alma vai-se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas,
Já que no mundo não cabe...
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai-se com elas!

Antero de Quental

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

A diferença existente
entre mim e o santo Antero
é a mesma exactamente
que entre a angústia e o desespero!

JCN