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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Relógios Péquignet, entre o Calibre Royale e o Moorea...


Estamos em Morteau, no Franche-Comté. Esta é uma história de determinação e coragem, de orgulho nacional e regional. De glória, decadência e morte. E de renascimento. E a continuação da aventura vai depender do destino de um calibre, visão de um empreendedor local, levado à prática por um suíço de língua francesa e de origem vietnamita. Falemos então do Calibre Royale e da Péquignet.


Quando Émile Péquignet fundou, em Janeiro de 1973, a marca com o seu nome, a crise do quartzo, vinda do Japão, com os seus relógios fiáveis e baratos, já estava a dizimar as tradicionais indústrias da região, fosse do lado francês ou do lado suíço da fronteira jurássica.

Mas ele conseguiu triunfar, dando ao mercado uma estética cuidada, especialmente para um público feminino, numa altura em que os relógios tinham todos formas muito simples e quando os relógios de moda ainda não tinham aparecido em força.

A Pequignet, estabelecida em Morteau desde a fundação, remava contra a maré de encerramento de toda uma capacidade industrial que tinha séculos de tradição na óptica ou na relojoaria. Mesmo assim, o Franche-Comté continua a ser hoje a primeira região industrial de França.

Com a linha Moorea, em modelos masculinos e sobretudo femininos, a Péquignet tornou-se um caso de estudo num mercado que passou a ser dominado, em termos europeus, pela Suíça - este país conseguiu ultrapassar a crise do quartzo, com o fenómeno Swatch e, depois, com o renascimento da relojoaria mecânica. Enquanto do lado de lá do Jura a industrialização se manteve, do lado francês ela estiolou e a Péquignet foi sendo excepção, com os seus modelos elegantes, de quartzo.


Há uns anos, o fundador vendeu a Péquignet a um empresário local, Didier Leibundgut, alguém muito experimentado no sector, e que vinha da suíça Zenith. O sonho de Leibundgut - fazer renascer a tradição relojoeira mecânica da França, criando na sua fábrica um calibre de raiz.

Socorrendo-se de um "menino prodígio" do lado de lá da fronteira, Huy Van Tran, dois anos de pesquisa e desenvolvimento deram o Calibre Royale. Um calibre que não era como os outros - inovava a nível mundial pois partia de uma filosofia inédita - a platina principal - placa onde assentam todas as outras peças móveis - já previa toda a série de complicações - grande data, fases de lua, indicação de reserva de corda... - que podiam ser acrescentadas, sem recorrer, como habitualmente, a módulos.


O Calibre Royale foi recebido com emoção pela imprensa especializada francesa - pela primeira vez, em meio século, a França criava um calibre próprio, coisa que não se via desde os tempos gloriosos da Lip... a grande empresa relojoeira da região, que faliu com o quartzo.

O calibre passou a equipar uma linha própria e Didier Leibundgut ter-se-á entusiasmado demais. A sua estratégia passou a estar exclusivamente no Calibre Royale, abandonando os relógios de quartzo e o ícone da marca, o Moorea.

Quando o Calibre Royale arrancou, o mundo mergulhava numa crise financeira de que ainda não saiu - estava-se em 2008 e a altura não era propícia para grandes aventuras... A Péquignet ressentiu-se fortemente. E entrou em pré-falência. Dois investidores locais, ligados à indústria informática Phgilippe Spruch e Laurent Katz, salvaram a Péquignet e os seus 50 postos de trabalho. Objectivo - mais uma vez, o renascimento da indústria relojoeira francesa.

Discretos, os dois homens procuram agora consolidar o calibre desenvolvido in house, mas voltando ao Moorea de tão boa memória.

Um ano depois de a nova administração ter tomado posse - Spruch não aparece no dia-a-dia, Katz é o CEO da Péquignet - Estação Cronográfica esteve em Morteau. E tomou contacto com uma equipa jovem, liderada em termos relojoeiros por Huy Van Tran, mas que tem na Produção, nas Vendas ou no Marketing responsáveis tão ou mais jovens do que ele.

Portugal foi o segundo mercado da marca, em 1974, sendo por isso encarado como importante em termos históricos. A linha Moorea teve grande êxito no país. A Péquignet foi representada durante décadas pela J. Borges Freitas, do Porto. Teve depois distribuição directa, aquando da tentativa de lançamento do Calibre Royale. Agora, volta ao mercado nacional pela Omoura.



O Franche-Comté é a região mais industrializada de França e a Relojoaria continua a ter uma importância grande. O polo dessa indústria resume-se praticamente à região, com 89 empresas e 70 por cento dos efectivos nacionais - cerca de 2.200, contribuindo com 67 por cento do volume de negócios da relojoaria francesa.

Os jovens são atraídos, logo na escola, para a via profissionalizante. Há a possibilidade de fazerem metade do horário escolar no estabelecimento de ensino e a outra metade já numa empresa. Ao fim de três anos, têm um diploma profissional. É o caso deste jovem de 15 anos, no segundo ano do programa e a estagiar na Péquignet. Em 2014, será relojoeiro.

Nos últimos dez anos, assistiu-se a uma reindustrialização do Franche-Comté em termos relojoeiros. Outra marca francesa, a Le Roy, pertencente ao grupo Festina, arrancou. O Swatch Group, a Seiko, têm lá plataformas logísticas ou mesmo de produção. A Audemars Piguet tem ali um importante serviço de assistência técnica.






Huy Van Tran, que vem da prestigiada Greubel-Forsey, é o mestre relojoeiro por detrás do Calibre Royale. Ele está a preparar a próxima complicação - o cronógrafo.






A Péquignet produz actualmente cerca de 2 mil calibres da linha Royale por ano. Tem capacidade para 5 mil. A montagem é feita nas suas iunstalações, bem como o controlo de qualidade. Mas os componentes são todos encomendados no exterior. "Procuramos revitalizar o conceito Fabriqué en France", diz-nos Philippe Blanchot, Director Industrial da Péquignet.






As novidades da Péquignet para 2013 são declinações da linha Calibre Royale, usando materiais como o titânio e introduzindo formas mais desportivas. Mas os modelos mais clássicos, ou outros mais simples (que servem de preço de entrada na relojoaria mecânica da marca), continuam a ser produzidos. Os preços começam em redor dos 5 mil euros.




















A linha Moorea já recebeu o Calibre Royale, mas a estratégia passa agora pelo relançamento em termos de quartzo. Modelos novos, mas sem perder a estética de um modelo histórico, que conseguiu fazer viver a marca durante décadas. As novidades só estarão prontas em 2014.





É hoje lugar comum dizer-se que o quartzo (Swatch) salvou a relojoaria mecânica suíça. Estará nas mãos do quartzo (Moorea) salvar o lado mecânico da Péquignet. Bon courage, Tran! Ou, é como quem diz - chúc may mán!

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