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sábado, 3 de novembro de 2012

Em La Côte-aux-Fées, Plan-les-Ouates e Genebra, com os relógios Piaget

Uma manufactura com um pé na relojoaria e outro na joalharia, uma personalidade dupla e exclusiva.


Estação Cronográfica esteve por estes dias em La Côte-aux-Fées na região jurássica de Neuchâtel, em Plan-les-Ouates, perto de Genebra, e em Genebra, a convite da Piaget. Verdadeira manufactura, é das poucas na indústria a manter um pé firme na Relojoaria e o outro na Joalharia.

Em mais uma visita às instalações históricas de La Côte-aux-Fées, integrámos um grupo português, que participou num work-shop, montando e desmontando um calibre básico. A maioria dos presentes tomou pela primeira vez contacto com o mundo das platinas, pontes, rodas dentadas, trens de rodagem, eixos, rubis, balanços, espirais e escapes. E apreciou a dimensão do mundo micro-mecânico, mais a mais no sector de Alta Relojoaria, onde o savoir-faire acumulado de gerações se continua a transmitir, com ferramentas velhas de décadas, acabamentos e decoração à mão.



As águas furtadas do histórico edifício da Piaget continuam, num ambiente de travejamentos em madeira e luz natural coada por janelas no telhado, a albergar os ateliers dos grandes mestres relojoeiros, encarregados de produzir umas dezenas de relógios por ano - grandes complicações, como calendários perpétuos, sonnerires, esqueletos, turbilhões.

De uma gaveta, orgulhoso, um dos mestres relojoeiros mostra-nos uma das ferramentas que ele próprio construiu para si - um martelo de ourives. E não é um martelo igual aos outros. Tem o cabo em pau preto. "Em honra da nobreza do métier...", explica-nos.

É essa filosofia de calma e atenção ao pormenor que continua a prevalecer não apenas dos ateliers das grandes complicações, mas também nas outras linhas de produção de La Côte-aux-Fées.


Montagem de um turbilhão e outras imagens de várias secções da manufactura Piaget, em La Côte-aux-Fées







Rescaldo do workshop de relojoaria - sobraram algumas peças, saltaram outras, partiram-se umas tantas mas, no final, todos conseguiram desmontar e montar o calibre...


A viagem incluiu uma visita às novas instalações da Piaget, na zona industrial de Genebra, Pal-les-Ouates. Um edifício a querer lembras as pontes de um calibre. Com preocupações ecológicas e com o parque de estacionamento escondido, no piso térreo, num efeito de equilíbrio muito particular.

E atravessámos um recém-inaugurado corredor, espécie de máquina do tempo, onde, em pouco mais de cem metros, de um lado e do outro, vitrinas e cartazes, nos dão uma ideia da evolução estética da Piaget, em jóias e relógios no último meio século.


Almoçámos nas instalações de Plan-les-Ouates com Philippe Léopold-Metzger, que dirige a Piaget desde 1999. Sob a sua batuta, a Alta Relojoaria cresceu exponencialmente - aproveitando a tradição dos calibres extra-planos, que fazem parte do ADN da marca, mas explorando outras facetas das grandes complicações, com calibres de forma para caixas "almofada", ou inventando turbilhões relativos (montados nos ponteiros dos minutos).

Se as jóias Piaget continuam a ser, do ponto de vista estético, das mais inovadoras e identificáveis no segmento topo de gama, conseguindo conquistar para a marca novas gerações, a relojoaria, queixa-se Philippe Léopold-Metzger, continua a ter uma apreciação demasiado "feminina", quando na última década a Piaget fez peças excepcionais para homem.


Philippe Léopold-Metzger

Estação Cronográfica concorda com o CEO da marca, que faz hoje parte do universo Richemont Group. E até pensa que a Piaget é um segredo demasiado bem guardado na Alta Relojoaria masculina. De forma discreta, fornece ao mercado peças de grande valor relojoeiro, equipadas com calibres de manufactura, e numa produção limitada. Trabalhando apenas metais nobres, a Piaget é uma hipótese para quem quer destacar-se  - porque sabe o que compra, porque sabe o que tem, pela sobriedade... especialmente à noite, num jantar de gala ou numa ida à ópera... Um certo cosmopolitismo que muitos tentam imitar, mas apenas uns tantos conseguem atingir. Não é cool quem quer. Ou, como no jazz, ou se tem swing, ou... não se tem. E não há escola onde se aprenda, loja onde se compre...



Em Plan-les-Ouates, a manufactura tem integrada toda a sua produção de base, de forma vertical - fazem-se os componentes dos calibres, mas também as caixas e as pulseiras dos relógios.



José Mateus Benvenuta. O nome pode enganar, mas estamos perante um português, alentejano de Castro Verde. Há 24 anos na Piaget e hoje encarregado do departamento de pulseiras da manufactura. Ei-lo, explicando as várias etapas que os componentes passam antes de se chegar ao produto final.


O brazão da família Piaget, aposto no fundo da caixa de um relógio


Georges Edouard Piaget

Fundada em 1874, a Piaget mantém a sua actividade assente em dois pilares - relojoaria e joalharia - numa dupla personalidade que a torna única. A relojoaria chegou primeiro, quando, nesse ano, Georges Edouard Piaget, produz os seus primeiros calibres.


A família Piaget, com o fundador


O grupo terminou a viagem com uma visita à Piaget Time Gallery, em Genebra

Duas gerações mais tarde, a empresa é pioneira nos calibres extra-planos, apresentando o hoje histórico 9P, de carga manual. segiu-se, em 1960, o seu congénere automático, o 12P, com apenas 2,3 milímetros de espessura. Este 12P fez com que a Piaget entrasse no Guinness Book of Records, como criador do movimento de relojoaria mais fino do mundo.

A Piaget continua na liderança dos calibres extra-planos, tendo apresentado toda uma nova geração, os 800P. E, nos últimos dez anos, produziu 19 calibres diferentes, o que diz muito do investimento que continua a ser feito em pesquisa e desenvolvimento.




Um extra-plano contemporâneo, equipado com o calibre 1208P, com massa oscilante descentrada, em ouro

As colecções de relógios para senhora entrecruzam-se com as linhas de joalharia que vão sendo criadas. No capítulo masculino, e muito especialmente no capítulo das grandes complicações, a Piaget tem produzido nos últimos anos turbilhões voadores, calendários perpétuos retrógrados, cronógrafos com função flyback. Ao todo, a Piaget produz cerca de 20 mil relógios por ano.


Exemplos de turbilhões Piaget. Em cima e em baixo, Emperador, com indicação de reserva de corda, comemorativo dos 50 anos do modelo.



Em cima, a forma "almofada", para um turbilhão automático, extra-plano. Em baixo, um turbilhão volante, montado no ponteiro das horas, num modelo Polo.


Numa ligação evidente entre a sabedoria na joalharia e a base técnica da relojoaria, a Piaget continua a cultivar nos seus ateliers os chamados Métiers d'Art. Sejam eles a esmaltagem, a pintura em miniatura, a gravação à mão, numa série de savoir-faire nas artes decorativas que também é raro no sector.

Quanto à joalharia, a Piaget começou a produzi-la apenas nos anos 1960. Mas desde logo com muito sucesso. E a casa ganhou, nesses anos loucos de psicadelismo e de libertação das formas, uma reputação de liderança em relógios-jóia. Basta ver as peças históricas em exposição em Plan-les-Ouates ou na Piaget Time Gallery, na boutique da marca, na Rue du Rôhne, em Genebra, para ser perceber a força da marca na criação de autênticos ícones do século XX. A Piaget tem actualmente 70 boutiques mono-marca espalhadas pelo mundo.


Montre à secret, linha Limelight, um exemplo da simbiose relógio-jóia da casa Piaget

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