Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Memória - A saga dos relógios de A Boa Reguladora*




A estação de caminhos-de-ferro, em Famalicão, onde os relógios eram exportados; as máquinas modernas na fábrica; um dos modelos fabricados; aspecto do interior da fábrica
Foi em 1892 que se fundou, na Rua Gomes Freire, no Porto, a firma S. Paulo & Carvalho, depois mudada em 1895 para Calendário, Vila Nova de Famalicão. João José de São Paulo, genial mestre relojoeiro, viria a falecer pouco depois, mas o seu sócio, José Gomes da Costa Carvalho, continuou o negócio, fazendo relógios de mesa, de parede, de caixa alta, despertadores. Ele manteve-se até hoje na família Carvalho, mas acaba de mudar de mãos.
Estamos a falar da Fábrica Nacional de Relógios, depois A Boa Reguladora, a partir de 1953 apenas Reguladora. Uma das marcas portuguesas mais perenes e conhecidas – não há praticamente casa onde um relógio seu não tenha entrado.
Partindo de cópias de máquinas norte-americanas, a Reguladora fazia nos seus tempos áureos praticamente todas as peças e as caixas, dando emprego a centenas de operários. Foi um dos grandes fornecedores de relógios de Estação para os Caminhos-de-ferro Portugueses e alguns dos seus relógios domésticos atingiram alguma sofisticação, tocando melodias.
Para Famalicão, a Reguladora e a família Carvalho foram cruciais – não apenas como grandes empregadores – a electrificação da zona ficou a dever-se a uma máquina a vapor importada pela fábrica de relógios.
Sobrevivendo a revoluções, mudanças de regime, conflitos mundiais (durante a II Guerra, devido à escassez de matérias-primas, usava latão e cabos usados do elevador do Bom Jesus, de Braga, derretendo-os), a única fábrica de relógios nacional não soube adaptar-se aos novos gostos estéticos e à entrada no mercado de relógios de quartzo e mecânicos muito mais baratos, vindos do Oriente. Depois de vender a uma multinacional a sua unidade fabril de contadores eléctricos e de água, depois de várias mudanças no seio da família Carvalho, a Reguladora foi definhando nos últimos dez anos, deixando há muito de fabricar movimentos – importava-os da Alemanha.
Agora, três antigos quadros da empresa, José Cunha, José Varela e Filipe Marques, compraram aos Carvalho a marca Reguladora e, partindo de uma pequena empresa de seis pessoas, incluindo dois relojoeiros, localizada ainda em Calendário, vão tentar relançá-la.
“Queremos manter todos os modelos, as caixas vão continuar a ser de produção nacional, feitas aqui em Famalicão”, diz-nos um dos novos donos. “Para já, vamos manter a rede de pontos de venda, tentar mesmo alargá-lo. E o objectivo é deixar de importar movimentos, passar a fabricá-los e a montá-los novamente, de raiz”.
Desde logo, a nova empresa, Regularfama, tem muito que fazer – dar assistência aos milhares de relógios Reguladora espalhados por Portugal e um pouco por todo o mundo onde haja comunidades portuguesas.
Se a Reguladora desaparecer, é um bocado da História de Portugal que desaparece.
*Crónica em A Máquina do tempo (06/07/07), Casual, Semanário Económico. A Regularfama continua a existir, dando assistência aos milhares de relógios Reguladora que permanecem no mercado. Mas o renascimento da fábrica de Calendário ainda continua a ser um sonho por concretizar.

Sem comentários: